Voo perdido

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Eram sete da manhã, a melodia ouvida com o intuito de me despertar, mais me embalava a continuar um sono reparador e foi o que aconteceu.

Senti nitidamente ser agarrado por um braço, tal como minha falecida mãe fazia quando me queria recriminar de alguma malfeitoria.  – Não vás nesse vôo para Paris. Deixei de sentir a pressão no meu braço e uma luz que me trespassava mostrou-me o caminho de regresso. Acordei, desta vez sem necessidade da melodia do despertador.

Ao levantar-me senti uma leve tontura mas, tinha de me apressar porquanto a minha bela July esperava-me num ninho de amor que tínhamos construído em Paris e ainda não o desfrutamos completamente, contava ansioso os três dias que faltavam, mas eram bem ocupados a deixar tudo em ordem na firma de molde a que a semana que iria estar fora não prejudicasse os trabalhos a executar.

 

A ultima vez que estive em Paris fui para casa de um amigo português, casado com uma Francesa muito simpática e afável, por morarem ali bem no centro da cidade na rua Malesherbes, perto do local onde pretendia desenvolver uns contatos comerciais que me tinham levado à cidade Luz, aceitei o simpático convite do casal.  

Na primeira noite, Fernando apareceu em casa com uma amiga da esposa, que me foi apresentada deixando-me espantado com a beleza e elegância das parisienses; Dei bastante trabalho ao meu atrapalhado Francês, que fez rir não só o casal como a recém apresentada July.  

Depois de um jantar de luxo, servido por uma firma especializada em que absolutamente tudo é escolhido previamente por cardápio, providenciado e servido à mesa pela mesma firma. Já na sala pequena e acolhedora nos dias muito frios para mim e normais para eles, onde mais uma vez me deleitei em fazer rir os genuínos Parisienses com o Francês de um Caipira dos arredores de São Paulo.

Ficou assente que me satisfariam o meu grande anseio, que era assistir a um espetáculo no Moulin Rouge, cujas bailarinas do “cancan” eram famosas no mundo inteiro.

– Eduardo a July está de férias e vai ajudar-te na deslocação a Montmartre onde tens negócios a tratar, eu vou para a Embaixada e a Genevieve tem consultório pela manhã e de tarde tem assistência no hospital, é uma médica muito solicitada tal como a July. Para almoçares te indicará certamente um bom restaurante onde podes tomar a refeição e à noite logo iremos jantar vendo as tuas bailarinas. – Disse rindo.

– Ficarei feliz por ter tão bela guia nesta maravilhosa cidade.

– Cuidado amigo Eduardo, as parisienses são apaixonadas pelo romantismo dos portugueses.

– Um brasileiro serve?

A resposta foi um coro de gargalhadas com que me brindaram.

No dia seguinte tratei de todos os meus afazeres de negócios a que a ajuda de July foi muito útil, porquanto a Empresa era gerida pelo dono, que era amigo de seus pais. Depois de amena conversa ficou assente abrir a representação desta Firma de perfumes em São Paulo.

– Quer almoçar em minha casa ou num restaurante?

Fui apanhado de surpresa e demorei a responder: – Onde a July achar melhor.

– Bom! Então vamos a minha casa.

Dirigiu a viatura para um dos bairros elegantes de Paris e breve se encontravam num apartamento muito elegante e decorado com muito bom gosto.

– Gosta do meu cantinho? Já falei com a Geni que nos vai fazer algo de muito bom para almoçarmos, agora vamos tomar um aperitivo.

Serviu-me e sentou-se ao meu lado, o seu perfume entontecia-me ou então era a sua figura estilizada, a verdade é que em breve a tinha nos braços e a beijava. Acariciamo-nos longamente e só paramos quando Geni nos veio interromper, o almoço estava servido.

– Eduardo desculpe este meu arrebatamento, mas os seus olhos provocaram-me e eu nem sei se é casado e tem responsabilidades de família, peço que me perdoe.

– Quem tem de pedir perdão pelo meu arrebatamento sou eu. Divorciei-me à cerca de quatro meses, tenho dois filhos lindos que estão ao cuidado da mãe.

– Curioso, estou divorciada à cerca de quatro meses também, fui encontrar o meu ex- marido na minha cama com um homem, nunca o imaginei homossexual. Foi um grande desgosto, pois sentia por ele muito carinho.

– A minha ex-esposa penso que nunca me traiu, mas era demasiado permissiva aos elogios de outros homens mais jovens que eu e antes que acontecesse algo de aborrecido, acabei com o casamento.  

 

Depois de um belíssimo almoço sentamo-nos na sala em amena conversa, falei-lhe dos meus negócios no Brasil e ela da sua profissão de médica, das nossas famílias, enfim só faltava mesmo era conhecermo-nos na intimidade; O problema foi resolvido na cama dela. Era bem pequena de estatura, mas de um corpo maravilhosamente moldado e de uma doçura que me encantou. Mais parecia uma boneca que propriamente uma mulher como eu estava habituado a ver na mulher brasileira, sempre de formas exuberantes e belas, com um sorriso que sempre considerei o mais belo do mundo, mas simplesmente agora estava a ficar apaixonado por uma boneca que mais parecia de porcelana.

– Estou a apaixonar-me por si senhor Brasileiro.

– E eu por si senhora Francesa.

 

Depois de um banho reparador, July tentou dar-me roupa do seu ex. o que rejeitei com repulsa, o que foi notado por ela ao dizer sorrindo: – Não se pega! 

 

Falou com Fernando pelo telefone a combinar o encontro à porta do Moulin Rouge, porquanto July já marcara a mesa para jantar.

Simplesmente fabuloso o espetáculo que me foi dado assistir, o ritmo da dança aliado à beleza das bailarinas, fez que o jantar confeccionado por cozinheiros célebres em Paris e no mundo, fosse deglutido como um arroz com feijão na minha “Chácara” de Ribeirão Preto, onde reunia os amigos para um churrasco e trocar conversa.

 

Acabei dormindo na casa de July e no outro dia, entre muitas promessas de amor, embarquei para o meu amado Brasil.

 

Apenas dois dias faltavam para voar para os braços da minha boneca Francesa, quando o telefone da minha secretaria quebrou este belo pensamento.

– É uma chamada internacional de uma senhora francesa, posso passar?

– Pode sim Sandra.

Num francês correto e melodioso ouvi: – Meu querido, não venhas a Paris por mim, meu marido zangou-se com o amante e voltou para casa.   

Quase caí da cadeira de executivo, mas depois de alguns segundos para acalmar respondi: – Tudo bem July, felicidades com o teu regressado marido.

Pedi à Sandra para desmarcar a minha passagem, e à noite fui fazer justiça a bela mulher brasileira.

 

No dia seguinte à minha desmarcada viajem, ao entrar no escritório fui surpreendido com a voz emocionada de Sandra: – Senhor Eduardo o avião onde o senhor devia ir para Paris caiu no Oceano Atlântico.

 

Elevei os olhos e murmurei: – Obrigado minha querida mãe.

 António Zumaia 

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